terça-feira, 15 de outubro de 2013


Ensinando a tigres selvagens quem são seus inimigos

Por  - NORIMITSU ONISHI

BALIMBING, Indonésia - Presos em duas jaulas grandes e adjacentes, os dois tigres selvagens de Sumatra, juntos, já tinham matado ao menos oito pessoas.
Eles rugiram com ferocidade e avançaram sobre um homem do lado de fora das jaulas; seus olhos irradiavam uma ferocidade que não se vê em tigres de zoológico. Mas, se tudo der certo, um deles -uma fêmea que já matou seis aldeões- será reintroduzido na natureza. O outro, um macho de 10 anos, está fraco demais.
Em 1 de apenas 2 experimentos desse tipo em todo o mundo, especialistas indonésios começaram a reabilitar e libertar tigres que já atacaram humanos e animais domesticados na ilha de Sumatra, Indonésia.
Enquanto a população humana e o desenvolvimento econômico crescentes continuam a expulsar os tigres de seus habitats, os choques vêm aumentando com frequência mortal. Em 2009, tigres mataram ao menos nove pessoas em Sumatra,na maioria madeireiros ilegais que avançaram em áreas de floresta até então intocada.
Nos últimos 20 meses, conservacionistas conseguiram devolver quatro tigres à floresta. Alguns especialistas descrevem a iniciativa como promissora para ajudar a salvar a população mundial de tigres selvagens, que hoje está em 3.000 indivíduos -menos de 3% da população de um século atrás.
Das seis subespécies sobreviventes de tigre, o de Sumatra, da qual restam menos de 400 indivíduos, é visto como o que corre risco mais crítico de extinção.
A soltura dos tigres vem atraindo críticas, entre outros, de moradores de povoados que se queixam de ter perdido cabras e frangos para os predadores e dizem que, agora, têm medo de sair à noite.
Alguns grupos conservacionistas, como o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), hesitam em envolver-se com o programa, que é financiado por Tomy Winata, magnata indonésio que aproveitou seus laços estreitos com os militares para erguer um império que abrange interesses imobiliários, bancários, de mineração e outros.
Winata, 51, administra seu "centro de resgate de tigres" no parque Tambling de Conservação da Vida Selvagem e da Natureza, área de 44.900 hectares que comprou numa distante península de Sumatra.
"Dou minha vida a este lugar", disse. "Muita gente diz que eu sou isto ou aquilo. Mas quem pode vir para cá e fazer melhor do que fiz?"
Em Balimbing, funcionários tentam recondicionar os tigres para que voltem a temer os seres humanos. Para isso, eles são mantidos quase inteiramente isolados. Os tigres instintivamente mantêm distância dos humanos, mas, segundo Tony Sumampau, que comanda o programa de reabilitação, os "tigres de conflito" já perderam esse medo, em maior ou menor grau.
"Uma vez que um tigre mata um ser humano, se dá conta de que não somos nada", disse Sumampau.

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